segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O primeiro, o único e o último

"Na saída, me espere no corredor da A-410. Josh."

Li a mensagem sem entendê-la. Se Josh precisava me encontrar, significava que queria dizer algo. E se era assim, por que não havia me falado antes?

Afastando esse pensamento, tentei manter o foco na aula. Ao meu lado, Josh estava inquieto, olhando algumas cartas. Entre elas, consegui reconhecer uma especial. Aquela única que, há algumas semanas, havia esclarecido tudo entre nós. Pelo menos sobre mim e meus sentimentos.

Dois de seus amigos vasculhavam a caixinha cheia de cartas. Tentei me desligar da aula e espiar, apenas para saber o que elas queriam dizer. Em uma delas encontrava-se o nome de sua mãe. Em outra, a de seu irmão.

A professora liberou a sala e percebi que Josh se demorou um pouco. Lembrando do SMS - ainda aberto em meu celular - fui na frente e cheguei até o corredor indicado. Sentei-me em um dos degraus da escada e, após dois ou três minutos, vi alguém se aproximando. Era ele.

- Sempre passei por aqui e nunca percebi como esse corredor era mais largo que os outros. - comentou.

Josh estendeu sua mão e eu a segurei. Levantei-me e fiquei diante dele, esperando o que tinha de tão importante para dizer. E foi ele quem quebrou o silêncio:

- Sue, a gente precisa conversar.

Josh hesitou. Após respirar fundo umas três vezes, sussurrou:

- Eu estou indo embora, Sue. Vou me mudar.

- Indo embora? – repeti, quase gaguejando. - Como assim?

A ficha demorou a cair. Minhas lágrimas queriam sair e foi com dificuldade que consegui contê-las. Meu coração não era tão fácil de ser controlado: ele já estava a mil por hora. Se não fosse o ruído do corredor - vindo de salas mais adiante -, seria fácil escutá-lo.

- Meus pais decidiram ir embora. Não está dando mais para viver por aqui, entende? Minha família quer se reunir de novo e começar a vida em outro lugar. Minha mãe sente falta dos meus irmãos... Não está sendo fácil para ela ficar tão longe deles.

Josh terminou suas explicações, mas, mesmo assim, ainda esperei por mais. Ansiava pela parte em que ele diria que era brincadeira. Ela não chegou. Com todas as forças que consegui reunir, minha voz saiu como um sussurro. Precisei tossir algumas vezes para conseguir pronunciar as palavras corretamente.

- Você não vai voltar? Quer dizer... Nunca mais?

Ele negou. O choque de realidade me pegou desprevenida. Senti como se estivesse em um lugar quente e, de repente, numa sala fria. A mudança de temperatura - de sentimentos - foi o bastante para mim.

Fiquei alguns minutos pensando no que acabara de escutar. Josh esperou, pacientemente, por alguma reação. Ela tardou e ele resolveu quebrar o silêncio, tentar suavizá-lo.

- Ninguém sabe sobre isso, Sue. Mas achei que deveria te contar... Você é a única pessoa que realmente me importo aqui.

- E você vai assim? - disse, ignorando tudo o que sua voz jogava para mim.

- Assim? – disse, confuso. - Assim como, Sue?

- Sem dar uma chance para nós.

Josh se aproximou de mim e envolveu minha cintura. Deixei que ele aproximasse meu corpo do seu enquanto falava:

- Pensei que teria que ir embora sem sentir algumas sensações que iriam tomar meus pensamentos por algum tempo.

- Que sensações?

E, apertando-me mais contra seu corpo, Josh me beijou. Aquele foi o nosso primeiro beijo. O mais doce e o mais amargo. O primeiro, o único e o último.

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