Oito horas da manhã e meu
despertador tocou. Aquele mesmo toque, aquela mesma hora… Seria mais um dia
rotineiro, se eu não tivesse acordado decidida de que não, ele não seria como
todos os outros. Decidi que iria fazer uma limpa no meu quarto. Tiraria tudo
que me trouxesse más lembranças, tudo que não me servisse mais.
Comecei pela sua foto. Dali a
pouco já estava separando aqueles livros velhos, que ao mesmo tempo em que me
remetiam a recordações imensamente maravilhosas, traziam certa melancolia,
certa tristeza. Eles me lembraram alguns sonhos perdidos e alguns caminhos
imprevisíveis que, muitas vezes, nos são impostos durante a vida.
Passei, então, àqueles numerosos
estojos socados debaixo da escrivaninha, os quais eu nem lembrava mais que os
tinha ali. Dentro deles, canetinhas, lápis de cor, giz de cera, lapiseiras… Era
tanta diversidade que eu poderia abrir uma papelaria. Separei tudo,
cuidadosamente, dentro daquela mochila, também velha e fora de uso, e deixei-a
num canto. Decidi que ela seria de alguém que precisasse mais daquilo do que
eu.
Parti para o computador. Também
comecei pelas suas fotos e, depois, fui para o meu e-mail. Fiquei surpresa ao,
voltar para 2010, encontrar três mensagens suas. Foi um misto de risos, pela
fofura que elas traziam, com saudade. Na verdade, eu não sabia o que sentir.
Então continuei a limpeza toda e quando terminei de colocar tudo no seu
devido lugar, apesar do ambiente que me parecia trazer muito mais paz que o de
antes e do e-mail e computador extremamente organizados, algo estranho se
passava dentro de mim. Fiquei minutos olhando o nada. Várias cenas se passaram
pela minha cabeça… Foi uma espécie de feedback.
Talvez todo esse ritual tenha me
feito perceber que nenhum objeto jogado fora e nenhuma foto ou mensagem
excluída conseguirão eliminar uma etapa de nossa vida. Certamente é bom
se desfazer de coisas que já não nos acrescentam nada ou que apenas estão
acumulando pó, mas isso não significa querer –e muitos menos conseguir- apagar
momentos da memória. Aliás, ao longo do tempo que se passa ao lado de uma
pessoa, é impossível que não se tenha vivido coisas maravilhosas, momentos
inesquecíveis. Porque não guardá-los na nossa caixinha e deixar com que apenas
eles tomem conta de nós quando aparece aquele ressentimento e angústia?
As pessoas têm essa mania de
lembrar apenas das coisas ruins, de achar que depois que algo terminou (namoro,
amizade, casamento…) não restaram coisas boas e passam a se martirizar pelo
resto da vida. Basta abrirmos os olhos e enxergarmos o nosso mais profundo
interior para percebermos que cada pessoa que passa por nós, independente do
tempo que ela permaneça, deixa recordações boas e ruins, mas somos nós mesmos
quem escolhemos quais guardar e lembrar. Portanto, que usemos bem –muito bem-
esse livre arbítrio!
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