sábado, 27 de outubro de 2012

A garota do lugar de sempre

Todos os dias, voltando do trabalho, pego o ônibus das 22h. Assim que entro, desejo "boa noite" ao motorista, pago a tarifa e passo pela catraca. Todos os dias, ansiosamente, espero por esse momento... Não apenas por ser a hora de voltar para casa e descansar. Mas, também, para ver a menina misteriosa que, todos os dias, senta no mesmo lugar. 

Após me interessar pela garota, passei a sentar na mesma direção que ela só para observar suas feições. Todo santo dia, ela coloca seus fones, liga em uma música e começa a sussurrá-la. Não faz nenhum barulho, na verdade. Mas, dentro de si, sente como se cantasse para alguém. Pelo menos, é isso que seu olhar me passa.

A garota adora delineador e, sempre que nos encontramos, ela está com um batom forte. Alguns dias, opta por um rosa bem chamativo. Outros, apenas um gloss. Fico imaginando os motivos de tantas mudanças... Talvez seja relativo ao seu humor. Quem sabe?

Ela também adora All Star. Acho que, desde o momento que comecei a perceber sua presença, já conheci parte de sua coleção. Eles sempre são bem combinados com um short jeans e meia calça. Ela adora este "acessório".

Fico pensando os motivos que me fizeram perceber tanto a garota. Entre tantos rostos que vejo todos os dias, ela foi a única que me chamou atenção. Talvez porque eu enxergo a mim mesma naquela imagem: uma garotinha indecisa, vestindo o de sempre. Só que, no meu caso, há alguns (ok, muitos) anos atrás.

Talvez ela seja só uma garota comum, voltando da faculdade de Administração ou terminando o Ensino Médio. Talvez ela seja só uma garota comum que, como tantas outras, estuda de manhã, trabalha a tarde e chega quase de madrugada em casa. 

Imagino se isso tudo fosse verdade... Meus devaneios seriam inúteis e ela seria só mais uma personagem sem peso na minha história. Imagino se, ao contrário das minhas alucinações, ela seja só uma garota voltando da faculdade, escola ou trabalho, cansada após um dia exaustivo e cheio. Assim como eu.

Mas prefiro manter minha personagem misteriosa. Prefiro continuar tentando desvendar o enigma que está por trás dessa parte da minha história. Enquanto ela canta uma canção qualquer, eu rabisco um rascunho numa folha, contando a vida (mesmo que fictícia) daquela garota misteriosa. Enquanto ela mexe no celular, trocando a música que vai sussurrar nos próximos minutos, eu dou vida à minha melhor personagem... Aquela que é parte real e parte uma incógnita. E esta última parte, minha mente faz questão de (tentar) completar.

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